Apesar de ser uma tradição da Ligúria, na Itália, a primeira vez que ouvi falar da Torta Pascoalina foi no México, por uma amiga argentina. Pelos lados porteños esta delícia também é muito comum e uma refeição na época da Páscoa.
Carla T. havia me encomendado uma torta para sua festa de despedida. Apesar de não cozinhar nada, me explicou todos os detalhes da torta e me confiou a tarefa de apresentá-la no qual seria o seu último dia entre as amigas mexicanas, argentinas e brasileiras.
Lá fui eu pesquisar, conversar com outras argentinas e testar a receita. Tudo saiu perfeitamente e as tortas que preparei receberam vários elogios. Pensei estar pronta para o desafio.
No dia do brunch, cheguei com uma torta linda, perfumada e executada com todo o cuidado para presentear a amiga. Carla levou a torta para a cozinha, olhou, olhou, agradeceu mas pediu para a sua empregada guarda-la na geladeira. Não entendi. Será que estava tão bonita que ela não queria dividir com ninguém? Que honra!!
“_ Patri, no es exactamente lo que you queria… Esa no es la pasta frola!”
Caraca. Fiquei arrasada… Não consegui executar a tarefa e ainda levei uma crítica logo a sangue frio. Mas afinal, o que era a pasta frola? Lá fui eu, novamente, conversar com mais um bando de argentinas que por ali estavam… Descobri que a massa a que se referia Carla, era uma massa de torta muito utilizada na Argentina para tortas doces e que em pouquíssimos lugares a utilizavam para tortas salgadas, e mais raro ainda para elaborar uma Tarta Pacualina…
O café da manhã seguiu com um misto de alegria e tristeza, não porque não degustariam a torta, mas porque nossa grande amiga partiria. E eu só conseguia pensar naquela Torta Pascualina fracassada, esquecida na geladeira… Por um minuto fiquei feliz que Carla partiria para não ter que encará-la novamente tamanha a vergonha que eu sentia.
Naquela mesma noite, Carla me ligou para agradecer pela torta e dizer que a minha versão estava divina e nunca tinha comido uma assim, uma versão de chef. E que por anos ela comeu sempre a mesma torta preparada por sua mãe e não imaginava que algo diferente poderia ser tão bom. Mais uma vez o misto de felicidade e tristeza tomou conta de mim… Minha grande amiga estava de partida.
Desde então, brinco com todas as versões possíveis da torta; couve, espinafre, ricota, queijo feta, bechamel, já foram protagonistas nas minhas receitas. Aprendi que a experiência individual de cada um determina o seu nível de satisfação.
Torta Pascoalina da Carla T. (Serve 4)
Ingredientes:
1 colher de sopa de azeite de oliva
1 cebola pequena picada finamente
1 dente de alho picado finamente
1 maço grande de escarola cortada chiffonade*
1 raminho de manjerona
1/4 de colher de chá de sal
pitada de pimenta do reino
pitada de noz moscada
2 pacotes de massa folhada 300gr cada
5 ovos, sendo que 1 separada a gema da clara
1/4 xícara de queijo parmesão ralado
350gr de queijo tipo feta
Modo de Preparo:
Comece preparando o recheio. Em uma panela de fundo grosso aqueça o azeite e refogue a cebola e o alho, em fogo baixo, para murchar mas não dourar. Junte a acelga picada e aumente o fogo. Como toda folha verde, a acelga contém muita água e precisa ser refogada rapidamente somente para murchar. Mexa sempre para não queimar, adicione as folhinhas de manjerona e tempere com sal, pimenta e noz moscada.
Retire do fogo e deixe escorrer para retirar o excesso de água e esfriar.
Prepare a massa folhada. Coloque a massa folhada sobre uma forma para torta de fundo removível. Eu recortei as beiradas pois queria uma torta mais clean. Mas se você preferir algo mais rústico, pode deixa-las e depois dobre-as sobre a tampa.
Agora um truque que vale para todas as massas, principalmente aquelas que não serão pré assadas. Fure a massa com um garfo e pincele clara de ovo. Deixe secar (seca rapidinho) e pincele uma segunda camada. A clara de ovo vai “impermeabilizar ” a massa e o recheio não deixará úmida e molenga!
Coloque o recheio de acelga sobre a massa. Com a ajuda de uma colher faça 4 “buracos” no recheio, em posições onde as fatias serão cortadas e quebre os ovos (4) nestes buracos. Polvilhe o queijo parmesão sobre os ovos e cubra toda a torta com o queijo feta despedaçado ou ralado.
Aqueça o forno a 200 graus.
Corte a segunda massa em 2 partes e estique-as com o rolo de massa para que fiquem mais finas. Tampe a torta com uma massa, pincele com azeite e sobreponha a outra massa. Faça isso para que fiquem bem folhadas. Corte o excesso de massa das bordas ou dobre-as para cima da tampa para um acabamento mais rústico.
Pincele com a gema de ovo restante e leve ao forno por 35/40 minutos ou até que a massa esteja bem folhada e dourada.
Feliz Pascoalina!
E para sobremesa sugiro:
Pavlova de Frutas e Calda de Maracujá
Bolo Daquoise de Mousse de Chocolate e Nutela®
DICAS:
- Você poderá utilizar massa podre ou massa de quiche para esta torta;
- Caso não queira tanta massa, não precisa colocar a tampa da torta – versão quase quiche!
- Caso queira ovos mais duros, utilize ovos cozidos no recheio ao invés de ovos crus;
- Ricota também poderá ser utilizada no lugar do queijo feta. Se utilizar a ricota mais cremosa misture-a ao recheio de acelga.
* Chiffonade – faça um rolinho com as folhas de acelga, como se fosse um charuto. Com uma faca bem afiada corte em “fatias” bem finas. É um corte muito utilizado para couve manteiga.